four women carrying file of bananas
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A igreja e a pobreza

A igreja e a pobreza

Jesus, desde o princípio do seu ministério, deixou claro que iria alcançar com sua graça, amor, compaixão e justiça aqueles que a sociedade ignorava: os pobres, oprimidos e rejeitados.

Logo após ter sido tentado pelo Diabo no deserto, Jesus anunciou na sinagoga de Nazaré que o Cristo veio para, no poder do Espírito, anunciar boas-novas aos pobres, proclamar libertação aos cativos, recuperação da vista aos cegos, libertação aos oprimidos e estabelecer a justiça do reino de Deus no mundo (Lc 4.14-20). O reino de Deus havia chegado com a vinda do Cristo anunciado pelos profetas e parte da missão dele era abençoar, dignificar, humanizar e fazer justiça aos humilhados pela sociedade.

No texto das bem-aventuranças em Lucas, lemos:

“Bem-aventurados vocês os pobres, pois a vocês pertence o reino de Deus”.

Lc 6.20

Não há espaço aqui para interpretarmos esse texto de Lucas como se Jesus se referisse a pessoas pobres de espírito (ou seja, com um coração humilde, como é feito no evangelho de Mateus). Lucas, em todo o seu evangelho, quer deixar bem claro que Jesus se importava com os pobres e oprimidos, com aqueles que estão em sofrimento por falta de elementos básicos para viver. A missão de Cristo, entre outras coisas, incluía uma ação direta, impactante e transformadora na vida dos pobres, oprimidos e injustiçados.

Mas afinal, quem são os pobres citados por Lucas? Essa pode parecer uma pergunta insignificante, mas, na verdade, é uma pergunta importante, pois tanto a pobreza quanto a riqueza são vistas de uma forma relativa hoje. O que é pobreza para uns, para outros é riqueza, e vice-versa. Na verdade, pouquíssimos reconhecem ser ricos, pois, fazendo isso, colocam-se numa posição de oprimidos e sofredores e, ao mesmo tempo, fogem da responsabilidade de ajudar outros.

Os pobres, principalmente nos textos bíblicos de Lucas, são aqueles que dependiam de outros para obter os elementos básicos para ter uma vida simples, ou seja, dependiam de ajuda financeira, de alimentos para se alimentarem naquele dia e, geralmente, possuíam apenas as vestes do corpo. Infelizmente, essa era a realidade da grande maioria dos que viviam na Galileia, local onde Jesus passou a maior parte do seu ministério.

Os pobres eram aqueles que se comessem algo hoje, não teriam nenhuma garantia de que iriam se alimentar amanhã. Por isso, Jesus prossegue dizendo:

“Bem-aventurados vocês que agora têm fome, pois serão satisfeitos”

Lc 6.21a

Por favor, não tente “espiritualizar” esse texto pensando em fome espiritual, fome de Deus ou algo assim. Existem outros textos com esse foco, mas esse fala realmente sobre a fome de comida que a grande maioria na Galileia passava todos os dias.

Jesus, por meio de suas palavras e ações, aproximou-se desses que passavam fome para supri-los e valorizá-los como deveriam ser valorizados por aqueles que tinham mais bens, pelos religiosos e líderes políticos. A missão de Cristo o colocava entre os pobres, por amor, para abençoá-los, resgatá-los e dá-los uma nova e viva esperança.

O choro era um elemento constante na vida dos pobres. Afinal, viver sem bens, dinheiro, propriedade produtiva, alimento para a família, respeito e dignidade social pode abalar qualquer um. Eles eram humilhados todos os dias, pois além dos sofrimentos peculiares da pobreza, eram também vistos pelos outros como malditos, como se fossem rejeitados pelo Deus de Israel. Ou seja, eram muitas as razões para chorarem. Jesus, na sequência do texto de Lucas, diz algo sobre o choro dos pobres:

“Bem-aventurados vocês que choram, pois haverão de rir”

Lc 6.21b

A missão de Cristo incluía consolar os que choram e sofrem devido à pobreza, opressão e injustiça social.

Como já vimos em estudos anteriores, a missão da igreja não é diferente da missão de Cristo. A igreja deve prosseguir com aquilo que o Senhor começou. O mesmo Espírito que capacitou o homem Jesus capacita a igreja verdadeira e fiel a cumprir a sua missão no mundo. Temos que olhar da mesma forma amorosa e compassiva para os pobres, pois são amados do Senhor. Temos que pregar o evangelho e recebê-los em nosso meio; temos que dignificá-los, honrá-los e, dentro dos nossos limites, ajudá-los em suas necessidades básicas, como alimentação e saúde; temos que ser agentes de justiça por esses que não têm uma voz ativa na sociedade.

Se temos ao menos um pãozinho francês garantido para comer amanhã e mais do que uma veste para usar, não somos pobres. Se temos algo para compartilhar com outros, mesmo que algo simples, somos ricos. Jesus exortou aqueles que tinham algo para compartilhar com outros, mas retinham tudo para si. As palavras de Jesus para esses foram:

“Ai de vocês, os ricos, pois já receberam sua consolação. Ai de vocês, que agora têm fartura, porque passarão fome. Ai de vocês, que agora riem, pois haverão de se lamentar e chorar”.

Lc 6.24,25

Nós, igreja de Cristo, não podemos ignorar o nosso chamado. A nossa missão inclui abençoar os pobres, oprimidos e injustiçados. Cada um de nós pode fazer algo nas situações que passa todos os dias. Podemos ajudar, abençoar, consolar e ser agentes de justiça para os mais desfavorecidos. Como igreja, devemos desenvolver ministérios que, de alguma forma, abençoem esses que o Senhor tanto ama. O próprio Cristo, como vimos anteriormente, afirmou que eles são especiais no reino de Deus. Negligenciarmos esses é ignorarmos uma parte significativa da missão a nós confiada pelo Senhor.

Parte daquilo que o Senhor tem nos dado não é para nós mesmos, para as nossas casas e para o nosso conforto, mas para abençoarmos outros, especialmente os pobres. O nosso tempo, dinheiro, vestes, alimento, dons, habilidades e conhecimento não nos foram dados simplesmente para acumularmos bens ou para “garantirmos o nosso amanhã”. Parte de cada um desses elementos em nossa vida devemos compartilhar com aqueles que passam por algum tipo de carência.

Lembremos que dizer NÃO a um desses pequeninos do Senhor que sofrem e necessitam de algo é dizer NÃO ao próprio Senhor (Mt 25.31-46).

Um desafio para nós, crentes no Senhor, é abandonarmos o nosso egocentrismo e olharmos com compaixão para aqueles que sofrem com a pobreza, opressão e injustiça. Não podemos deixar que as nossas dores e lutas pessoais sejam desculpas para não agirmos como o Senhor espera que façamos. Sempre teremos dificuldades, contas a pagar e preocupações pessoais, entretanto, nenhuma dessas coisas pode nos impedir de sermos verdadeiramente o povo de Deus no mundo. Sejamos fiéis ao Senhor e cumpramos esse aspecto da missão da igreja: abençoarmos os pobres e necessitados.

NOSSA ORAÇÃO

Pai eterno, sabemos que o Senhor tem um propósito para a tua igreja no que se refere aos pobres, necessitados e oprimidos. Não queremos ser negligentes à tua vontade. Pelo contrário, queremos ser agentes de vida no mundo.

Senhor Jesus, dá-nos um coração igual ao teu. Queremos nos compadecer dos necessitados, amá-los verdadeiramente e agir como tu agirias para abençoá-los.

Santo Espírito, santifica-nos. Livra-nos de vivermos com os olhos apenas em nós mesmos, em nossos sonhos, planos e desejos. Livra-nos também de focarmos tanto em nossas dores a ponto de ignorarmos aqueles que estão em sofrimento ao nosso redor, sem dinheiro para comprar o alimento diário, medicamentos e dar uma vida digna para a família.

Trindade excelsa, faça da nossa igreja uma bênção para aqueles que sofrem devido a pobreza, opressão e injustiça. Que venhamos a desenvolver ministérios que revelem de forma real e concreta o teu amor, compaixão e carinho por esses.

Em nome de Jesus Cristo. Amém.

PESCA

Tema: A igreja e a pobreza.

Texto: Lc 6.17-26.

  1. O que podemos perceber nesse texto bíblico sobre a importância dos pobres no reino de Deus?
  2. Como Jesus agia diante da pobreza e dos pobres? O que isso nos ensina?
  3. Que tipo de ministérios poderíamos desenvolver na igreja para abençoar esses que são tão amados pelo Senhor? O que você poderia fazer?
  4. Qual é a importância dos versículos exortativos para a igreja hoje (vs.24-26)?