Todos os rios vão para o mar, contudo, o mar nunca se enche; ainda que sempre corram para lá, para lá voltam a correr. Todas as coisas trazem canseira. O homem não é capaz de descrevê-las; os olhos nunca se saciam de ver, nem os ouvidos de ouvir.
Eclesiates 1. 7, 8
Neste versos, o livro de Eclesiastes aponta para o caráter infindável de nossas buscas e insaciável de nossas almas.
Quanto mais temos, mais desejamos.
Quanto mais alcançamos, mais longe queremos chegar.
Nunca nos encontramos numa posição saudável de equilíbrio no qual afirmemos para nós mesmos: “Chega! O que tenho me basta” ou “sou feliz e estou satisfeito com o que alcancei”.
Isso porque os objetos de nosso desejo e o alvo de nossas buscas jamais poderão preencher o vazio da alma humana.
Estas buscas infindáveis são bem retratadas em nossa cultura em músicas como Eu caçador de mim, interpretada por Milton Nascimento e composta por Luis Carlos Sá e Sérgio Magrão.
Perceba nas palavras desta composição o anseio por preencher este vazio existencial e descobrir algum sentido maior para a vida:
Por tanto amor, por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz, manso ou feroz
Eu, caçador de mim.
Preso a canções, entregue a paixões
Que nunca tiveram fim
Vou me entregar, longe do meu lugar
Eu, caçador de mim.
Nada a temer senão o correr da luta
Nada a fazer senão esquecer o medo
Abrir o peito à força, numa procura
Fugir às armadilhas da mata escura
Longe se vai, sonhando demais
Mas onde se chega assim?
Vou descobrir o que me faz sentir
Eu, caçador de mim.
Mas, não somente em nossa cultura encontramos expressões deste anseio humano por sentido que nos conduz a buscas infindáveis.
Leon Tolstoi, em seu conto Quanto de terra precisa um homem nos apresenta um outro exemplo.
Na história, ele nos conta acerca de um homem que, desejoso por ampliar suas posses, viaja até uma região onde se dizia que grandes porções de terra podiam ser compradas por uma pequena quantia de dinheiro.
Na verdade, por uma quantia comum a todos os compradores podia se ter a quantidade de terra que se conseguisse percorrer entre o nascer e o pôr do sol no mesmo dia.
No entanto, antes do pôr do sol se fazia necessário que o comprador voltasse ao ponto de partida.
Então, tomado pela ganância, o comprador do relato de Tolstoi foi sendo levado para regiões cada vez mais distantes.
Quando seus olhos avistaram um lago, ele queria incluí-lo em sua propriedade.
Quando enxergava um bosque, não conseguia deixar de desejá-lo como parte de suas posses.
Assim, suas energias foram se esvaindo na busca por ter, ter, e ter.
Quando tomou consciência de que o sol começava a se pôr, tentou desesperadamente correr até o ponto de partida.
Completamente esgotado, caiu a poucos metros daqueles que o esperavam, mas para nunca mais levantar.
O homem, então, foi enterrado em um pedaço de terra de dois metros de comprimento por oitenta centímetros de largura.
Assim, Leon Tolstoi conclui:
De quanta terra precisa um homem para viver?
Para viver, nunca saberemos, mas para guardar seu corpo após sua morte, bem pouca.
Nos evangelhos encontramos alguns exemplos de pessoas que, envolvidas em buscas infindáveis, se depararam com a fonte de vida: Jesus.
Um deles é Zaqueu, um homem rico e que ocupava uma posição de importância na sociedade.
Apesar disso, em seu encontro com Jesus, Zaqueu se manifesta refém desta busca insaciável.
Só a água que Jesus tem para nos oferecer sacia a nossa sede, libertando-nos das buscas das quais, ao longo da vida, nos tornamos reféns, e nos transforma em fonte de vida para aqueles que estão à nossa volta.
Para refletir
Após ler o artigo do boletim, reflita nos pontos abaixo em algum momento desta semana:
- No processo de avaliação de nossas vidas torna-se muito importante ter consciência de quais são as buscas infindáveis que têm nos movido e têm drenado o melhor de nossa energia, levando-nos à construção de uma esperança infundada.
Quais são suas buscas infindáveis que precisam ser desnudadas e encaradas? - É também muito importante compreendermos que somente a relação com Jesus pode nos oferecer o sentido para a vida que tanto procuramos. Ele tem o poder de preencher o vazio de nossas almas e nos libertar da escravidão gerada pelas buscas insaciáveis.
Você já teve este encontro pessoal com Jesus?
Já compreendeu suas palavras?
Já experimento a transformação?
Reflexão do Pr. Ricardo Agreste.
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