Não podemos esquecer que Jesus foi condenado tanto por uma ofensa política quanto por uma religiosa.
Na corte judaica ele foi considerado culpado de blasfêmia, por ter chamado a si mesmo Filho de Deus, enquanto na corte romana ele foi condenado por sedição, por se haver declarado rei, e Roma não reconhecia outro rei além de César.
Portanto, as reivindicações de Jesus tinham implicações políticas inevitáveis.
Sua declaração de que temos que dar “a Cesar o que é de César e a Deus o que é de Deus” pode ter sido deliberadamente enigmática.
Entretanto, ela certamente implicava que existem áreas sobre as quais Deus é Senhor e nas quais César não deve se intrometer.
Os cristãos primitivos enfrentavam um constante conflito entre Cristo e César.
Durante o primeiro século, a megalomania dos imperadores era cada vez maior.
Eles mandavam construir templos em sua própria honra e exigiam que seus súditos os reverenciassem como deuses.
Estas exigências acabaram entrando em choque direto com o senhorio de Cristo, a quem os cristãos honravam como rei, ou melhor, como “o soberano dos reis da terra”. (…) Como é que os crentes diriam “Cesar é Senhor” se eles haviam confessado que “Jesus é Senhor”?
Antes ir para a prisão e a morte do que negar o senhorio de Cristo!
A divinização do estado não acabou com o fim do Império Romano.
Ainda hoje existem regimes totalitários que exigem de seus cidadãos uma lealdade incondicional, que os cristãos não podem prestar.
Os discípulos de Jesus devem respeitar o estado e, dentro dos limites, submeter-se a ele; nunca, porém, irão adorá-lo nem dar-lhe o apoio acrítico que ele exige.
Por isso é que às vezes o discipulado implica em desobediência. (…) A desobediência civil nasce naturalmente da afirmação de que Jesus é Senhor.
O princípio é claro, mesmo que sua aplicação possa envolver os crentes em agonias de consciência.
Temos que nos submeter ao estado, pois sua autoridade provém de Deus e seus oficiais são ministros de Deus — Rm 13.1-7.
Mas há limite: quando a obediência ao estado implica em desobediência a Deus.
Neste ponto, nosso dever, como cristãos, é desobedecer ao estado a fim de obedecer a Deus. (…) Como diz Pedro, “Antes importa obedecer a Deus do que aos homens” — At 5.29.
Ou, em palavras de Calvino, “obediência aos homens não deve transformar-se em desobediência a Deus”.
Deixe seu comentário: