O “Pai Nosso” não é uma oração qualquer, dirigida à ‘não importa quem’.
Ela pressupõe o “nós”: Pai Nosso!
Um Pai que o é para nós, de uma maneira particular.
Este “nós” foi criado por ordem de Jesus Cristo que nos manda segui-lo.
O “nós” implica a comunhão do homem que ora com Jesus e na sua existência na irmandade dos filhos de Deus.
Jesus convida, permite e ordena ao homem que se junte a ele, muito particularmente em sua intercessão perante Deus, seu Pai.
Jesus nos convida, ordena e permite falar com ele a Deus, orar com ele a sua oração, juntarmo-nos a ele na oração dominical.
Portanto, adorar a Deus, orar a Deus e louvá-lo com uma só boca, uma só alma, com ele, unidos a ele.
Este “nós” significa ainda a comunhão do homem que ora com todos aqueles que estão com Cristo, e que, como ele, são convidados a orar com aqueles que receberam o mesmo convite, o mesmo mandamento, a mesma permissão de orar ao lado de Jesus.
Ora-se “Pai nosso” na comunhão desta assembleia, desta congregação que chamamos de Igreja.
Mas ainda estando na comunhão dos santos, na assembleia daqueles que são reunidos por Jesus Cristo, estamos também ligados àqueles que ainda não oram, mas pelos quais Jesus Cristo ora, posto que ele ora pela humanidade inteira.
Quando os cristãos oram são, por assim dizer, os substitutos de todos os que não oram e, neste sentido, estão conectados com eles da mesma maneira que Jesus Cristo se faz solidário com o pecador, com a humanidade perdida.
Deus, nosso Pai, significa: Nosso Pai de misericórdia.
Nós somos e seremos sempre os filhos pródigos que não podem reclamar outro direito senão aquele que nos é dado na pessoa de Jesus Cristo.
A clareza, a certeza, a grandeza e a majestade de nosso Pai aparecem no fato que nos achamos diante dele sem poderes, sem méritos, sem fé própria e com as mãos vazias.
Apesar disso tudo, em Cristo, somos filhos de Deus.
A realidade desta filiação não seria mais segura se pudéssemos ajuntar algo bom que viesse de nós.
A realidade divina sozinha é a plenitude de toda realidade.
Jesus Cristo é o doador e o fiador de nossa filiação.
Esta é a razão pela qua esta paternidade e esta filiação são incomparavelmente superiores a qualquer outra, a tudo isto que entre nós chamamos de pai e filho.
As relações humanas não são o original, das quais a outra seria a imagem ou o símbolo.
O original, a verdadeira paternidade e a verdadeira filiação estão nestes laços que Deus criou entre ele e nós em Cristo.
Tudo que existe entre nós não é senão a imagem desta filiação original.
Quando chamamos Deus de “nosso Pai” não caímos no simbolismo, mas estamos na plena realidade destas duas palavras: pai e filho.
“Que estás nos céus” – os céus!
São uma parte do mundo criado, a parte que está no alto, a parte inacessível e incompreensível da criação.
Isto significa que Deus está muito acima do céu que podemos alcançar e conhecemos.
Este mesmo Deus é também o Pai de Jesus, aquele que ama o mundo em Cristo.
Nenhuma filosofia, nem a de Aristóteles, nem a de Kant, nem a de Platão, consegue compreender e explicar a transcendência de Deus, pois os filósofos não chegam senão aos limites do incompreensível, disto que nos é superior.
Toda filosofia gira em torno dos céus, mas o Evangelho nos fala daquilo que está nos céus e além dos céus.
Espiritualistas, idealistas e existencialistas não consegue nos trazer a realidade divina, a sua transcendência.
Ela é demonstrada, revelada e se torna real a nós somente em Jesus Cristo, bem como a profundidade de sua misericórdia toda-poderosa.
Deus está em seu trono nos céus.
Ali está sua existência suprema.
Ele está diante de nossos desejos, de nossas necessidades grandes e pequenas, de nossos ideais, nossos princípios, nossa sabedoria e ignorância, de nosso humanismo e nosso “animalismo”.
Está ali o juiz e rei que dispõe de nós, que reina, por vezes, contra nós, em todo caso, sobre nós, sempre.
Deus é sempre o mesmo e, ao mesmo tempo, jamais o mesmo, pois é sempre novo a nós a cada manhã.
Ele está presente conosco a cada minuto, mas continua sendo o eterno presente em nós.
Ele é a livre graça e a graciosa liberdade, a pessoa a quem tudo está submetido, tudo está confiado, em cujas mãos tudo pode e deve servir, tem servido e servirá.
Eis, em algumas palavras, aquele a quem nos dirigimos não de nossa própria iniciativa, mas porque somos convidados, chamados a fazer isso pela oração.
Nós temos a liberdade de nos dirigir a ele. Esta liberdade nos é dada por Cristo. Ela não é nossa, não nos é natural.
É a liberdade dos filhos de Deus, a liberdade da Palavra e do Espírito.
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